Segundo especialistas ouvidos pela CNN Brasil, o Brasil já é visto como “o melhor aluno da classe” quando o assunto é mercado de carbono. Isso porque temos floresta, matriz elétrica limpa e projetos de conservação que cabem em qualquer ranking internacional.
Mas o que, exatamente, significa negociar créditos de carbono e por que isso pode mexer tanto com a economia nacional? Nos próximos tópicos, você vai entender o conceito, a nova lei brasileira, as chances de lucro para empresas e, também, os obstáculos que ainda precisam de solução.
Afinal, o que é mercado de carbono?
Em termos simples, esse mercado cria valor financeiro para quem reduz ou evita a emissão de carbono (CO₂ e outros gases de efeito estufa). A lógica é transformar cada tonelada de CO₂ evitada em um ativo — o crédito de carbono — que pode ser comprado e vendido. Assim, quem polui além da conta paga e quem preserva, recebe.
Atualmente, existem dois modelos ativos no Brasil e no mundo:
Mercado de carbono regulado
Esse mercado funciona por lei ou decreto: governos fixam um teto de emissões (“cap”) para setores como energia, siderurgia ou aviação. Assim, as empresas que ficarem abaixo da meta ganham créditos, enquanto quem passa do limite precisa comprá-los.
Um exemplo clássico é o ETS europeu, mas já existe a Lei 15.042/2024 em vigor no Brasil, que prevê a obrigatoriedade de grandes emissores a reportar dados e compensar CO₂.
Mercado de carbono voluntário
No mercado voluntário de carbono, empresas optam por compensar suas emissões de gases de efeito estufa de forma espontânea — ou seja, sem obrigação legal. Essa decisão geralmente está alinhada a compromissos com metas ESG, estratégias de reputação ou demandas de consumidores cada vez mais conscientes.
Os projetos que geram créditos de carbono podem envolver ações como reflorestamento, substituição de combustíveis fósseis por biogás, ou geração de energia renovável. Antes de serem comercializados, esses créditos passam por processos rigorosos de verificação e certificação realizados por padrões internacionais reconhecidos, como Verra e Gold Standard, garantindo sua integridade ambiental e credibilidade no mercado.
Como funciona a precificação do carbono?
Antes de entrar no leilão de créditos, é preciso entender que cada tonelada de CO₂ tem um valor diferente — e isso muda o tempo todo. A cotação surge no cruzamento entre regras de mercado, atributos do projeto e expectativas de investidores. O preço não é tabelado, mas depende de oferta, demanda e qualidade do projeto, como:
- Tipo de tecnologia (florestal, energia, agro);
- Localização e benefícios sociais (projetos na Amazônia tendem a valer mais);
- Padrão de certificação e rigor do MRV (Monitoramento, Relatório e Verificação), como Verra ou Gold Standard.
Existem três metodologias principais, como o preço de mercado (oferta e procura), preço “sombra” interno (quanto vale evitar o CO₂ dentro da estratégia da empresa) e o preço regulamentado (leilões ou tarifas fixadas pelo governo).
Mercado de carbono no Brasil: cenário atual e perspectivas
A Lei n° 15.042/2024 criou o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE). A sua implementação será gradual, em cinco fases:
- Inventário obrigatório;
- Definição de setores;
- Distribuição de cotas;
- Início dos leilões;
- Integração com bolsas internacionais.
Hoje, o país já negocia cerca de 20 milhões de toneladas de CO₂ por ano no mercado voluntário. Um estudo feito pela ICC Brasil, em parceria com a consultoria WayCarbon, projeta que, com a lei plenamente em vigor, esse volume poderia triplicar até 2030, trazendo até R$ 120 bilhões em investimentos.
Como as empresas podem se beneficiar do mercado de carbono?
Ao ingressar no mercado de carbono, as empresas têm duas principais oportunidades: gerar créditos ao reduzir a emissão ou adquirir créditos para compensar o que ainda não pode ser reduzido. Em ambos os casos, a estratégia contribui para o fortalecimento da agenda ESG, atrai investidores e conquista clientes que priorizam marcas sustentáveis.
Além dos ganhos reputacionais, esse mercado também pode se tornar uma fonte de receita adicional. Ao mesmo tempo, a participação ativa nesse ecossistema ajuda a antecipar exigências regulatórias, reduzindo riscos futuros e posicionando a empresa de forma estratégica frente à transição para uma economia de baixo carbono.
Saiba a diferença entre emissões diretas e indiretas
Reduzir a própria pegada continua sendo a prioridade antes de compensar. Conheça os escopos da pegada de carbono:
- Escopo 1: são emissões diretas, fonte própria da empresa (caldeiras, frota, processos). Resultam da queima de combustível ou de reações químicas dentro das instalações;
- Escopo 2: são emissões indiretas de energia comprada, como eletricidade ou vapor gerados por terceiros. Ocorrem fora do site, mas são associadas ao consumo de energia da empresa;
- Escopo 3: são indiretas da cadeia, como viagens, logística, uso do produto, resíduos e fornecedores. Geralmente, o maior componente da pegada, mas o mais difícil de medir.
Como integrar o mercado de carbono na estratégia ESG?
Compensar emissões só faz sentido quando está ligado a metas ambientais claras, indicadores de governança bem definidos e compromissos sociais que reforcem a credibilidade do processo.
Confira como integrar o mercado de carbono com a estratégia ESG:
- Mapear pegada de carbono (escopos 1, 2 e 3);
- Definir preço interno do CO₂ para escolha de projetos;
- Reduzir emissões diretas e, só então, compensar o saldo;
- Comprar créditos auditados ou desenvolver projetos próprios;
- Divulgar metas e resultados em relatórios ESG padronizados.
Quer se aprofundar mais no assunto? Continue nos artigos de Sustentabilidade do BV Inspira para ficar por dentro das tendências e oportunidades que estão moldando a economia de baixo carbono.