Algumas lições do coronavírus vão, com certeza, se destacar entre os aprendizados que podemos ter desse momento. Entre elas, a importância da boa administração de recursos, no caso, financeiros, é uma das que mais chamam a atenção nesse momento.
Realmente, ninguém esperava por um baque tão grande na economia em tão poucos meses, nem nos cenários mais pessimistas. Porém, por outro lado, podemos sempre tentar nos precaver de alguma forma, seja tendo uma carta na manga, seja com aquele dinheiro reserva que fica guardadinho.
Aqui, abordaremos o que a pandemia nos ensinou sobre vida, dinheiro e economia. Que tal aproveitar o momento para refletir um pouco mais sobre o assunto? A seguir, mostramos quais são as nossas impressões e compartilhamos os aprendizados com você. Acompanhe!
Viver sempre um degrau abaixo
Você já parou para pensar e calcular qual é o seu custo de vida atualmente? Ele engloba todos os gastos que se tem durante o mês, sejam eles essenciais ou não. Então, desde o aluguel até o aplicativo de delivery, tudo entra no seu consumo mensal.
Porém, é preciso prestar mais atenção aos custos fixos. Como o nome sugere, eles são sempre os mesmos e não se alteram, independentemente do consumo ser maior ou menor. É o caso do aluguel. Mesmo que você passe 15 dias fora de casa, o valor pago será o mesmo.
Eles precisam ser observados bem de perto, uma vez que dificilmente podem ser reduzidos com facilidade no curtíssimo prazo. Dessa forma, se é preciso diminuir o orçamento em R$200 para o próximo mês, é bem provável que você não arrume outra moradia mais barata a fim de resolver o problema.
É bem provável que você procure outros gastos para reduzir, como a compra no supermercado e o plano de telefonia móvel, certo?
Dito isso, se o seu custo fixo está acima de 60% do total que você ganha, podemos afirmar que ele é alto e precisa de atenção. Nesse caso, as chances de se endividar e ter problemas financeiros são maiores.
Uma das lições do coronavírus mais importantes foi justamente a de não viver sempre no limite dos ganhos, mas sim um degrau abaixo (pelo menos). Com a chegada da pandemia, muitas pessoas tiveram seus salários reduzidos em até 25%.
Já pensou perder uma parte considerável da sua renda da noite para o dia? Se você sempre gasta tudo que ganha, ou até mais que isso, como é que fica a sua capacidade de honrar os compromissos? Certamente, algumas contas vão começar a se atrasar e podem virar um problema maior (sujando o nome) em pouco tempo.
Sendo assim, é essencial refletir sobre o custo de vida que você tem atualmente e se ele pode ser um pouco mais enxuto. Para isso, vale a pena rever algumas questões, como:
- a necessidade de ter TV a cabo;
- se o plano de celular não está acima da sua necessidade (e, portanto, mais caro);
- se você pode trocar algumas marcas por outras que têm um custo-benefício melhor na hora de ir às compras;
- se é mesmo necessário renovar o guarda-roupa todos os meses.
É possível reduzir os seus gastos sem precisar fazer muitos sacrifícios inicialmente. Comece avaliando quais são os desperdícios e resolva-os. Se você paga R$80 de TV a cabo e consegue negociar com a operadora um desconto de R$30, já fez uma economia de R$360 em um ano.
Se você conseguir poucas economias assim na maioria dos gastos mensais que tem, vai perceber que a quantia total é considerável. Portanto, antes de pensar "ah, são só R$10,00 de diferença…", lembre-se que esse valor de redução em 10 itens diferentes do seu orçamento representa uma economia de R$100,00 por mês.
Comprar somente o necessário
Por falar em diminuir o custo de vida, outra das grandes lições do coronavírus para muitas pessoas foi a de comprar apenas o que é necessário. Com a incerteza econômica, surgiu aquele sentimento de insegurança, sem saber o que nos espera.
Isso se agravou bastante com o índice de desemprego aumentando em um curto período de tempo. "Será que ainda estarei trabalhando mês que vem?" é um pensamento que surgiu para muitas pessoas.
Foi aí que despertou a consciência de poupar um pouco mais e gastar de forma consciente, evitando produtos e serviços supérfluos.
Pensar mais antes de comprar por impulso
Aqui, também podemos citar os gastos por impulso e como eles afetam as nossas finanças. Provavelmente, pelo menos uma vez na vida, você comprou algo que não precisava tanto assim se arrependeu depois — ou conhece alguém que já passou por isso.
Esse tipo de situação ocorre muito quando surgem promoções que são, aparentemente, imperdíveis. Olhamos o anúncio indicando um desconto grande e já pensamos "não posso perder, pois não sei quando esse item vai entrar em promoção de novo".
Se você já precisava daquilo, estava se programando e a oferta surgiu, ótimo. Basta abraçar o momento e pagar um valor bem menor do que planejava. Esse é um exemplo de como as promoções são bem aproveitadas.
Mas, se você sequer imaginava ter aquele gasto, mas resolveu comprar só para garantir o desconto, aí é o caso da compra por impulso. É importante tomar cuidado, porque as empresas sempre usarão gatilhos mentais na comunicação.
Isso significa que os anúncios sempre vêm acompanhados de palavras como "últimas unidades", "somente esta semana", "oportunidade única". A ideia é que você realmente tenha a sensação de que vai perder um benefício muito bom se não comprar. E é aí que o dinheiro vai pelo ralo.
Esse tipo de situação pode ser evitado se você se fizer algumas perguntas básicas antes de efetivar a compra. Veja!
- Preciso mesmo disso neste momento ou é algo que pode esperar?
- Estava me programando para ter esse gasto agora?
- Essa compra pode ser planejada?
- O valor vai comprometer as minhas finanças?
- O item realmente está em promoção ou o preço é bem próximo do que está sendo cobrado em outros lugares? (aqui, vale fazer uma pesquisa rápida primeiro)
Dependendo das respostas, você já sabe se é melhor fugir ou se é o momento de aproveitar uma excelente promoção. Outra dica que pode ajudar a economizar, quando for preciso comprar e não houver promoção, é negociar valores com o vendedor. A possibilidade de conseguir alguns descontos é grande.
Ter sempre uma reserva de emergência
Em cenários de insegurança financeira e econômica, a necessidade da prevenção se faz ainda mais clara do que em quaisquer outros momentos. Quando a economia está em ascensão e o acesso ao crédito facilitado, é comum que se reflita menos sobre as decisões financeiras que serão tomadas e o pensamento se mantenha mais fixo ao presente.
Quando se perde a garantia no sustento futuro, em alguns casos até no presente, é mais complexo lidar com os desfalques que o mau planejamento nos traz no médio e longo prazo — e até mesmo no curto prazo e no que poderia ser feito para o agora.
Identificar o quadro de saúde financeira em que cada um se encontra é o primeiro passo a ser dado nessas situações. A busca por melhorar ou reverter essa situação tende a ser mais bem sucedida quanto mais cedo ela começa — e uma das lições do coronavírus é sobre a necessidade da prevenção.
Descobrir, inicialmente, se é uma pessoa superavitária ou deficitária deverá guiar a tomada de decisões a partir do momento da mudança financeira. Quem está em superávit tem, após o recebimento de toda sua receita, seja seu salário ou quais forem seus proventos, além de pagar suas despesas ordinárias, uma economia mensal de dinheiro que sobra líquido em seu caixa pessoal.
Já uma pessoa em déficit é alguém que precisa pegar dinheiro emprestado para resolver suas despesas, porque somente sua receita não consegue liquidar todos os gastos. Aqui, será necessária uma mudança visando readequar as finanças para que futuramente o quadro seja se superávit.
Buscando, então, não contrair dívidas em casos de cenários economicamente pessimistas ou ter com o que contar para possíveis gastos que podem surgir em contextos de imprevisibilidade é que se encontra a função da reserva de emergência.
Essa economia é um valor equivalente ao necessário para suprir as despesas básicas de sobrevivência de 6 meses a um ano de vida de quem a montou. Ou seja, não é um valor fixo, mas sim um cálculo que cada indivíduo faz para si ou sua família visando prevenir uma futura falta econômica de recursos.
Sua importância é diversa, mas focada principalmente na não contração de dívidas para suprir uma necessidade iminente e que surgiu de última hora. Por isso, deve estar alocada em um fundo que garanta liquidez diária, ou seja, a possibilidade de saque imediato do valor necessário para suprir a emergência — além de, necessariamente, também estar protegida de variações.
Essa reserva não pode ser impactada por oscilações de mercado, afinal, como não se sabe quando precisará dela, ter aquele valor assegurado é essencial para se manter no momento de necessidade. Aqui, a visão não é a longo ou curto prazo, mas sim em um prazo indeterminado. Por isso a liquidez e a segurança são igualmente essenciais.
Não depender de apenas uma fonte de renda
Um jargão muito conhecido no mercado financeiro é “não colocar todos os ovos na mesma cesta”, mas isso vale também para as fontes de renda e é uma das lições do coronavírus. Ter mais de uma fonte de renda ou mesmo criar mais alguma foi a alternativa encontrada por muitos brasileiros frente ao cenário que estamos.
Ficar em casa, para alguns, é uma alternativa viável, uma vez que foram apenas realocados para home office. Já outros, como donos de estabelecimentos comerciais, bares, restaurantes e lojas, se viram em um cenário mais pessimista.
Com a necessidade de fechar as portas e entrar em quarentena junto aos demais cidadãos, viram-se obrigados a pararem momentaneamente suas vendas e, com isso, seus lucros foram reduzidos drasticamente. Alguns, nessa situação, contavam com caixa suficiente que os manteria assim sem muitos prejuízos, mas não é o caso da grande maioria.
Para esse tipo de comércio, é possível ainda contar com o e-commerce e o delivery, seja próprio ou por uso dos aplicativos de entrega e aproveitar para vender na pandemia. Esses meios possibilitam a manutenção da quarentena para a maioria, enquanto apenas os funcionários necessários saem para cumprir tarefas necessariamente presenciais.
Aos que tinham um emprego formal e o perderam nesse cenário de crise, outra lição do coronavírus é a necessidade de constante reinvenção. Fazer renda extra não se tornou, então, uma opção, mas sim uma necessidade. Entender quais hábitos mudaram, o que se tornou necessidade ou conseguir prever quais delas podem surgir a partir deste novo cenário é a visão que muitos estão usando para empreender.
A confecção de máscaras de proteção facial foi uma das primeiras alternativas que surgiram nesse cenário. Puxado majoritariamente por mulheres com máquinas de costura domésticas, elas viram tanto uma oportunidade de criar renda quanto de fazer o bem — vide que muitas também doam seus produtos aos que não podem pagar por eles.
Como o uso de máscaras se tornou obrigatório, sua demanda não foi mais opcional, levando todos nós a comprarmos as nossas. O mesmo aconteceu com o álcool em gel.
Suportes para uso de álcool em gel sem contato com as mãos, principalmente em estabelecimentos como lojas e restaurantes, foi uma demanda imediata e decorrente da pandemia, o que fez com que pessoas conseguissem lucrar com essa produção de baixo custo e confecção para um uso específico que pode, inclusive, não terminar durante o período de maior contaminação.
A confecção caseira de bolos, doces e sobremesas também foi uma opção procurada nesse cenário. E outra lição trazida pelo coronavírus é a de tanto conseguirmos aprender novas profissões para fazer renda quanto a de podermos ensinar o que sabemos, com o aumento da busca por cursos online nessa quarentena.
Saber que os bons investimentos hoje podem não ser tão bons amanhã
Outra lição importante do coronavírus é saber entender o que é passageiro e o que é duradouro. Investimentos em si mesmo, por exemplo, aperfeiçoamento profissional, aprendizados pessoais e de desenvolvimento, são perenes. Enquanto lembrarmos deles, estarão conosco e serão de grande valia para nosso bem-estar.
O mesmo se aplica aos demais investimentos, como bolsa, startups ou projetos menores de empreendimentos que surgem visando suprir necessidades imediatas. Se o valor do papel de uma empresa caiu unicamente por causa da crise internacional, que levou todas as bolsas a valores abaixo do esperado, é razoável que esse momento seja visto como uma boa oportunidade.
A compra de boas ações por um bom preço é um excelente negócio que, se bem feito, pode ajudar numa vida mais tranquila e acelerar a independência financeira. Ao contrário disso, a compra dos chamados “micos” da bolsa não deverá gerar nenhum lucro ou melhora de capital, pelo contrário.
Esse ralo financeiro faz somente o investidor desperdiçar dinheiro, tempo e expectativas numa ação que não vai se valorizar novamente, uma vez que as causas de sua queda também foram intrínsecas a ela, para além das questões estruturais do mercado e da macroeconomia.
Para quem investe no longo prazo, a análise fundamentalista se faz ainda mais necessária em cenários como esse. Uma opção se encontra nas empresas que conseguem pagar bons dividendos.
Caso a visão seja de aumento do patrimônio e não somente de usufruir dos rendimentos dele, é preciso estar atrelado às políticas concretas de manutenção, crescimento e desenvolvimento nos quais existem bons pilares para se garantir em cenários futuros — em que um pós crise pode ser tanto vantajoso quanto ainda mais sombrio, dependendo do mercado em que ela se encontra.
A renda fixa e o longo prazo podem ser os amigos mais fiéis do investidor iniciante. Mesmo com a queda da Selic (taxa básica de juros nacional) ali ainda se garante um rendimento que pode ser previsto e não há inseguranças ou possíveis decréscimos de patrimônio.
Com isso, podemos ter como lição a importância de estudar bastante antes de investir o seu dinheiro e colocar em risco parte do patrimônio que foi conquistado com muito suor.
Ter sempre um plano B
Não depender de uma única fonte de renda e ter uma reserva de emergência são ótimos exemplos de como ter um plano B para momentos de crise. Caso alguma coisa saia muito diferente do que você imaginou, essas opções serão muito boas para segurar as pontas por um tempo.
Você já imaginou qual é o seu plano B? Se tudo sair dos trilhos hoje, o que você faria para se manter? Se já tem consciência de que a reserva de emergência é finita, sabe que não poderá contar com ela depois de alguns meses.
É por isso que planejar um novo caminho é muito importante. Essa segunda fonte de renda pode se tornar um trabalho futuramente? Pode superar os ganhos que você tem hoje? Então, por que não investir e se profissionalizar ainda mais? Depois de um tempo, o que servia apenas como complemento pode virar a sua ocupação principal.
Entender que é preciso mudar hábitos e disciplina
A preocupação com a rápida contaminação do coronavírus fez que diversos estabelecimentos, em muitas regiões, exigissem o uso de máscaras para a entrada no local.
Então, uma simples ida à padaria já levantava a necessidade de colocar a máscara, tomar cuidado na rua, evitar tocar em superfícies sem necessidade, voltar, deixar o chinelo na porta, lavar as mãos, tirar a máscara, colocar para lavar, tirar a roupa da rua separadamente e até tomar banho — dependendo da atividade e do tempo que se demorou.
Quais desses hábitos você tinha antes da pandemia chegar? Você pode até dizer que já deixava os sapatos "da rua" do lado de fora e que sempre toma banho depois que chega do trabalho.
Porém, e a parte de passar álcool em gel nas mãos com muita frequência? Lavá-las diversas vezes ao dia? Usar uma roupa só por alguns minutos (aquela que usou para ir à padaria) e já colocar para lavar? Para muitas pessoas, a mudança na rotina foi radical. Sem disciplina, então, nada disso se tornaria um hábito consistente.
No dia a dia…
Tudo isso também vale para a relação com o dinheiro. Mudar a visão sobre os gastos e impor algumas mudanças foi uma realidade que chegou para muitos, principalmente com as demissões, as reduções salariais e as incertezas quanto ao futuro.
Porém, de nada adianta fazer um planejamento impecável, com estratégias eficazes, se tudo aquilo que foi definido não é colocado em prática. Ou pior, se não tiver disciplina para continuar fazendo diferente.
Então, podemos perceber como a adaptação, a disposição para adotar novos hábitos e a disciplina são importantes para qualquer área da nossa vida, independentemente do momento — se a fase é boa ou se estamos passando por alguma adversidade.
As lições que o coronavírus deixou vão muito além de questões ligadas ao dinheiro e à economia. Muita coisa mudou, inclusive a forma como as pessoas se relacionam. Muitas delas aproveitaram para rever as prioridades e passaram a dar mais valor para coisas que antes não tinham tão importância (como os encontros com pessoas queridas). Qual delas fez a maior diferença para você e a sua rotina?
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