Risco crescente

O comportamento do mercado tem sido favorável, mas cenário de 2022 ainda indica riscos elevados.

Categoria: Inovação

Categoria: Inovação

Roberto Padovani
14 abril 2022 

Os últimos dois anos têm sido marcados pelos choques e desdobramentos econômicos inesperados da pandemia. Este cenário não deverá mudar à frente, com redução da liquidez internacional, menor crescimento global e aumento das incertezas em relação à gestão econômica no Brasil. 

Neste ambiente de baixa previsibilidade, os preços dos principais ativos financeiros devem continuar sendo marcados por movimentos voláteis e atípicos. A expectativa é que o aumento dos riscos globais e locais leve a uma reversão dos fluxos de capitais e traga mais instabilidade a câmbio, juros e bolsa. 

No caso do câmbio, a experiência de mais de 20 anos de regime de taxas flutuantes permite identificar algumas variáveis que influenciam a cotação da moeda de modo mais importante, como diferencial de taxa de juros, risco soberano e preços de matérias primas. O comportamento destas variáveis durante a pandemia é uma boa referência para avaliar a instabilidade cambial. Depois de dois anos operando em níveis bem acima do nível esperado, o surpreendente ingresso de capitais para a bolsa neste início de ano foi gatilho para uma rápida correção, fazendo a moeda convergir para patamares considerados mais adequados. 

Após este ajuste, no entanto, os fundamentos sugerem alta do dólar para os próximos meses. A ideia é que os juros domésticos não serão suficientes para compensar a pressão sobre a moeda gerada pela alta dos juros internacionais, fortalecimento global do dólar, menor crescimento externo e aumento dos riscos internos. Este ambiente não favorece a continuidade dos fluxos de capitais para os mercados emergentes. 

O mesmo raciocínio se aplica ao mercado de juros. A inclinação da curva de juros mostra um comportamento diferente do padrão histórico. Enquanto os contratos mais curtos encontram-se pressionados pela sucessão de choques inflacionários, a parte mais longa da curva mostra altas menores a despeito do aumento dos juros internacionais e das incertezas fiscais domésticas. 

Em algum momento à frente, espera-se que os choques inflacionários sejam superados e tragam algum alívio nas taxas dos contratos futuros de prazos mais curtos. Ao mesmo tempo, seria de se esperar que os investidores passassem a considerar os efeitos nos contratos mais longos do aumento das taxas internacionais de juros e os riscos externos e domésticos. 

Esta normalização da inclinação da curva, no entanto, enfrenta desafios com a continuidade da aceleração da inflação global, problemas climáticos no Brasil e a disseminação dos reajustes de preços na economia. Da mesma forma, a comunicação do Banco Central, sistematicamente sinalizando um ciclo menor que o esperado pelo mercado, gera volatilidade e dificulta a ancoragem das expectativas. Apesar disso, faz sentido que, assim como no mercado de câmbio, a parte mais longa da curva de juros reaja a um cenário de riscos mais elevados. 

Por último, o mercado de ações tende também a sofrer neste cenário. No curto prazo, os juros reais negativos no mundo protegem o desempenho das principais bolsas e, ao mesmo tempo, a bolsa brasileira continua barata sob em qualquer critério utilizado, atraindo investidores. 

Este quadro positivo, no entanto, pode enfrentar desafios à frente. As bolsas internacionais devem reagir negativamente a um quadro de elevação mais forte dos juros e retirada de liquidez. Localmente, a combinação de juros domésticos elevados, aversão a risco global, pior desempenho dos preços de commodities e risco soberano pressionado dificulta a continuidade de valorização no curto prazo. 

Portanto, a ideia é que o bom comportamento de câmbio, juros e bolsa no primeiro trimestre do ano não reflete plenamente o ambiente de incertezas esperado para o ano. Com muitas incertezas econômicas e políticas, os fluxos de capitais podem ser revertidos e trazer um cenário mais complexo à frente. 

Este material foi preparado pelo banco BV. As informações aqui apresentadas têm como única intenção fornecer um panorama da situação atual do mercado, estando baseadas em dados de conhecimento público, não significando, portanto, quaisquer compromissos e/ou recomendações de negócios por parte do Banco Votorantim S.A. (“Banco BV”). As informações contidas neste material são de caráter meramente informativo. Este conteúdo não deve ser reproduzido no todo ou em parte, redistribuído ou transmitido para qualquer outra pessoa sem o consentimento prévio do administrador. É recomendável que as decisões de investimento sejam tomadas com plena compreensão dos riscos envolvidos. Este material não deve ser considerado como recomendação de investimento nem deve servir como única base para tomada de decisão. O Banco BV e suas empresas coligadas se eximem de qualquer responsabilidade por quaisquer prejuízos, diretos ou indiretos, que venham a decorrer da utilização deste material, de seu conteúdo e da realização de operações com base neste material. Dúvidas, sugestões e reclamações, entre em contato com o Serviço de Atendimento ao Cliente pelo telefone 0800 728 0083 ou pelo e-mail sac@bv.com.br. Deficientes Auditivos e de Fala: 0800 701 8661. Se desejar entrar em contato com a Ouvidoria, ligue para 0800 707 0083 (Deficientes Auditivos e de Fala: 0800 701 8661). 

Atendimento BV